O Real Digital estará disponível em breve
- Eu te ensino
- 9 de jul. de 2023
- 4 min de leitura
Se a projeção mais recente do Banco Central se concretizar, o Real Digital será lançado para a população até o final de 2024, ou seja, em um futuro próximo. Este é o momento oportuno para que empresas, bancos, fintechs e consumidores se familiarizem cada vez mais com o termo "Real Digital" e suas consequências diretas e indiretas.
O Real Digital será a moeda virtual oficial do Brasil e uma das primeiras Moedas Digitais de Banco Central (CBDCs) do mundo. Diferente de stablecoins populares como USTD (atrelada ao Dólar) e BRZ (atrelada ao Real), essa moeda será criada e supervisionada pelo Estado, tendo curso legal (obrigatória por lei) e lastro total na moeda "mãe", o Real.
Com o Real Digital, o Banco Central do Brasil demonstra sua intenção de explorar o potencial da tecnologia blockchain, oferecendo aos cidadãos uma forma mais segura e eficiente de realizar transações financeiras. O Banco Central será responsável por produzir, regular e emitir a moeda, da mesma forma como faz com o papel-moeda e a moeda eletrônica. A distribuição do Real Digital ocorrerá por meio de bancos, instituições financeiras e de pagamento.
Essa iniciativa terá um impacto significativo em nosso dia a dia. O objetivo principal é trazer os benefícios das criptomoedas nativas e das finanças descentralizadas para a nossa moeda soberana, sem abrir mão das vantagens do dinheiro tradicional, como baixa volatilidade, alta capacidade de servir como reserva de valor, segurança nas transações e custódia, rastreabilidade e, acima de tudo, sem ameaçar o monopólio estatal.
Uma das principais inovações que o Banco Central pretende implementar com o Real Digital é a integração com outras redes e protocolos de Contratos Inteligentes, o que reduzirá os custos de diversas operações bancárias, ampliará o número de pessoas no mercado financeiro, facilitará a concessão de crédito e simplificará processos como transferências de dinheiro, compras no varejo, investimentos e transações, entre outros.
Em resumo, o Banco Central está focado nos consumidores conectados ao mundo digital. Com o objetivo de maximizar o impacto do Real Digital na economia brasileira como um todo, essa solução terá diferentes versões, cada uma com um objetivo específico de uso. Atualmente, são denominadas como "versão de atacado" e "versão de varejo" (também conhecida como "real tokenizado").
Embora não haja informações concretas ou fontes totalmente confiáveis no momento, a versão de atacado do Real Digital será destinada a pagamentos entre o Banco Central e as instituições financeiras. Esse é o foco principal do Banco Central, pois serão as instituições que orientarão o uso dessa solução para os usuários finais.
Por outro lado, a versão de varejo está mais distante, pois essa modalidade estará diretamente relacionada aos consumidores finais. É nesse ponto que surge a perspectiva futura de uso dessa moeda virtual para pagamentos do dia a dia, tanto no comércio eletrônico quanto no varejo tradicional.
Para ilustrar o poder transformador do Real Digital, imagine uma operação de crédito em que uma instituição empresta R$ 100.000,00 a um devedor e registra a dívida no Real Digital, estabelecendo um "Contrato Inteligente" com a seguinte regra: toda transferência de Real Digital destinada a esse devedor deve ser dividida em duas partes, sendo que uma delas corresponde a 20% do valor da transação e é redirecionada para a conta da instituição credora até o limite de R$ 100.000,00.
Dessa forma, o credor tem como garantia todo o fluxo de pagamentos do devedor. Essa prática, que pode ser aplicada a qualquer tipo de crédito e adaptada para várias outras situações, certamente criará um ecossistema totalmente novo no mercado financeiro e possibilitará um aumento significativo na oferta de crédito, juntamente com reduções consideráveis nas taxas efetivas médias desses empréstimos, devido à melhoria evidente na qualidade das garantias.
Esse é apenas um exemplo entre muitos que poderiam ser dados, mas é suficiente para mostrar o potencial transformador da iniciativa do Real Digital.
Outro ponto importante que torna o Real Digital tão atrativo é sua capacidade de ser aplicado e integrado às novas tecnologias do mundo físico. Muitas empresas já estão propondo soluções que utilizam o Real Digital para melhorar a eficiência dos serviços, criar mercados e atualizar sistemas no varejo, nos serviços de pagamento online e na integração com a Internet das Coisas (IoT).
Por exemplo, imagine a cena futurista em que sua geladeira identifica que está sem estoque de cerveja e faz o pedido automaticamente no supermercado. O Real Digital permitirá que o pagamento seja liberado ao vendedor somente quando a geladeira confirmar que a cerveja foi entregue e está gelada - e não, isso não é uma hipérbole.
Embora estejamos acostumados a criticar nosso país e nossos governos, a verdade é que atualmente o mercado financeiro conta com dois órgãos reguladores extremamente eficazes e favoráveis à inovação, o Banco Central e a CVM. Eles estão impulsionando uma agenda microeconômica extremamente positiva e transformadora. Agora cabe às empresas e às pessoas estudarem como aproveitar todas as vantagens do Real Digital e das inovações disponíveis. Não podemos perder tempo, afinal, o final de 2024 está se aproximando rapidamente.
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Gustavo Blasco é o fundador e CEO do Grupo GCB, que engloba as fintechs Adiante e PeerBR, e da GCB Investimentos. Ele é economista formado pelo Mackenzie e possui as certificações: Certificado Nacional de Profissionais de Investimento (CNPI) e Certificado de Gestor Anbima (CGA).
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